Comportamento

Uma desventura durante a aventura

Por: Antoninho Rossini*

Acostumado a praticar caminhadas, trilhas, tirolesa, salto de paraquedas, pesca esportiva e outras aventuras, sempre me preparei muito, ainda mais quando se alcança a marca dos mais de 8.0 de idade, como é o meu caso. Num vacilo, sofri uma queda numa trilha, quando visitava a Serra da Canastra, em Minas Gerais, no segundo semestre do ano passado. O resultado foi fratura na região do tornozelo direito (tribiotársica), sendo necessária a colocação de duas placas, parafusos e pino de sustentação, exigindo recuperação lenta e o uso de cadeira de rodas, andador e assistência para qualquer necessidade física – situação muito desagradável. O tratamento ainda continua com séries de sessões de fisioterapia. Nos primeiros dois meses, quase sem poder me locomover, prestes a entrar em crise emocional, comecei a escrever o livro “Velhice Radical” (*). Nele relato momentos angustiantes, ainda numa região de Minas Gerais carente de socorros médicos, até minha remoção tumultuada para São Paulo, com a sequência das providências médicas. 

Nesse livro, resgato meus tempos de menino com as traquinices e meus sonhos de sempre buscar o novo, o desconhecido e sentir meu coração bater mais forte. Aproveitei também para resgatar outros eventos durante pesca esportiva na Amazônia, Pantanal, e em países vizinhos, assim como saltos de paraquedas, tirolesas em diversos locais, trilhas e escaladas.

Durante a narrativa foram tomando conta de mim alguns aspectos que a gente ignora (ou finge ignorar) sobre a vida, a própria aventura, o medo, a coragem e a solidariedade. Cada uma dessas palavras analisadas com lentes de aumento tem relevância e valor indispensáveis para nos diferenciar das outras espécies de seres.

O que vem a ser um aventureiro? É alguém que procura o desconhecido, quer ampliar seu universo; o medo, ao contrário de soar como palavra negativa, exerce um dos princípios de sobrevivência – aliás tem uma música cujo refrão diz “todo herói tem medo”. O medo, na hora certa, é instintivo – é o espírito da sobrevivência. Na hora errada se transforma em doença como “burn out”, síndrome do pânico, de depressão e outros nomes que a ciência vai batizando na medida em que as pessoas adoecem sem causas físicas aparentes. Um outro ponto que o “Velhice Radical” aponta é solidariedade. A solidariedade nasce com o ser humano, mas que com o tempo e as atribulações cai para um segundo plano, até porque a atenção tem que estar voltada para o vencimento de boletos bancários, o trabalho e as coisas do dia a dia. Sobre a dor, que cito durante a narrativa, tem várias facetas: a dor sentida no corpo precisa ser aplacada com medicamentos. A dor de observar as pessoas queridas passando por aflições de forma solidária é ainda pior. Se vista sob a ótica humana é muito contagiante. O “Velhice Radical” trilha esse caminho, que só quem pratica a aventura e cai numa desventura sabe avaliar.

A chegada da terceira idade não deve apavorar ninguém e nem servir de desculpas para abandonar sonhos. Felizes os que alcançam essas marcas, ainda realizando seus objetivos. Sobre esse tema o livro guarda um bom espaço para se entender ou facilitar a compreensão da roda da vida. Aliás, me utilizo de uma citação popular que afirma: “A melhor ideia é morrer jovem, o mais tarde possível”.

O texto do “Velhice Radical” aborda outras questões sem, contudo, abandonar os sentimentos em relação aos projetos futuros e a importância de desfrutar da vida da melhor forma.

* Antoninho Rossini é jornalista e escritor. Trabalhou na Editora Abril, nos jornais O Estado de S. Paulo, Diário Popular e Diário do Comércio e foi editor da revista Propaganda e Marketing. Atualmente, dirige a editora Tag&Line.

@antoninhorossini

(*) O livro pode ser adquirido no Amazon KDP ou via e-mail:

estela@taglineconsultoria.com.br