Quando tive a oportunidade de conhecer Ushuaia, capital da Província da Terra do Fogo, na Argentina, a experiência superou todas as expectativas: foi inusitada e surpreendente. Além de estar na localidade mais ao sul do planeta – também conhecida como a Cidade do Fim do Mundo – a viagem me levou muito mais além.
Em Ushuaia, fiz passeio no Trem do Fim do Mundo, com locomotiva a vapor, usado pelos presidiários para construírem, durante 18 anos, sua própria prisão; sobrevoo de helicóptero e passeio de jeep (4×4).
Na sequência, embarquei no Via Australis, um pequeno navio com capacidade para 136 passageiros, muito aconchegante, sem TV, telefone e internet. O objetivo é levar turistas para as expedições entre os glaciais (paredões imensos de gelo). Durante todo trajeto a navegação é desafiadora, devido às condições climáticas: ventos fortes e ondas grandes.
Em cada parada saímos do navio, com colete salva-vidas, passamos para pequenos botes que nos levaram para terra, onde desembarcamos e fizemos caminhadas para conhecer a região.
O destino final deste cruzeiro é o Parque Nacional Cabo de Hornos, criado em meados da década de 1940, uma extraordinária reserva protetora da flora e fauna nativas. E lá eu cheguei: na ilha mais ao sul do Planeta Terra, pertencente ao Chile, local em que os oceanos Atlântico e Pacífico se encontram. A partir desse ponto só existe a Antártida, o continente mais austral do mundo.
Darwin esteve lá
De 1831 a 1836, Charles Darwin fez uma viagem entre a Inglaterra e o Cabo de Hornos, no navio chamado Beagle (nome em homenagem à raça do cachorro que pertencia à rainha da Inglaterra).
A expedição começou em Plymouth, no Reino Unido, margeou ilhas europeias e africanas, chegou ao Brasil – passando por Fernando de Noronha, Salvador, Recife e Rio de Janeiro – prosseguiu para o Uruguai e a Argentina, cruzou o Estreito de Magalhães, passou pelo Chile e Peru, aportou em Galápagos, foi para a Oceania e África do Sul, e voltou para o nordeste brasileiro antes de retornar ao seu país.
Considerado o primeiro glaciologista (especialista no estudo das geleiras) da Patagônia, o naturalista Darwin coletou muitos animais, plantas e minerais e fez observações e expedições científicas na região. Há relatos de que ele presenciou, no Chile, erupção do vulcão Osorno, terremoto e o descobrimento de fósseis marinhos a mais de 4 mil metros de altura. Toda experiência foi útil para que ele desenvolvesse sua famosa teoria da evolução, sobre a origem do homem, publicada 23 anos após sua volta à Inglaterra.
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