Personagem

Uma vida longeva com múltiplas atividades, iniciadas aos 60 anos

Anna Lee Chor Sheung. Este é seu nome e ela logo explica o significado de cada um. Anna é o bíblico;Lee, o de família; e Chor Sheung, o chinês, devido à sua origem. Aninha, como ficou conhecida – talvez por sua pequena estatura (1,59m) – nasceu em Macau, antiga colônia portuguesa, região administrativa especial pertencente à China. “Vivi muito pouco em Macau. Não tinha dois anos de idade quando meus pais decidiram se mudar para Hong Kong, com os cinco filhos”

Em Hong Kong ela estudou, aprendeu inglês e trabalhou como secretária bilíngue. A próxima mudança em sua vida ocorreu aos 29 anos, quando chegou a São Paulo, com o marido, também português de Macau, e duas filhas. Uma com três anos e a outra, um ano e meio. “A mudança foi decidida porque Hong Kong, que estava há 150 anos sob o domínio britânico, voltaria a pertencer à China, sob regime comunista”.

Na capital paulista, tiveram mais três filhas e um único filho, que faleceu aos 34 anos. Hoje, com 80 anos completados em agosto último, Aninha se sente muito feliz. Separada do marido, vive sozinha, mas sempre rodeada pela família que aumentou com a chegada de cinco netos.

Para pagar os estudos das filhas ela sempre trabalhou. Primeiro em uma loja de conserto de relógios, administrada pelo casal. Depois, sozinha, abriu um café e vendia bolos e trufas preparados por ela. Quando as filhas se formaram, passou a ocupar seu tempo com outras atividades.

 “Aos 60 anos comecei a praticar Lian Gong, baseada na medicina tradicional chinesa. Achei muito devagar e decidi fazer aulas de dança, zumba, body balance, alongamento, abdominal, esteira e ioga.” – relata, com orgulho. “Também queria praticar bike e jump, mas por ter pressão alta não são recomendáveis” – lamenta.

Um de seus recentes desenhos. A inscrição significa ‘bela’

Aninha considera como seu principal hobby a academia, mas não é o único. Faz curso de caligrafia oriental e optou pelo idioma japonês. “É preciso muita concentração para reproduzir as letras*, com nanquim. Já sei escrever palavras como ‘amor’, ‘rua’, ‘flor’ e outras” – explica, ainda com mais orgulho, enquanto vai citando seus demais hobbies. “Gosto de desenhar, cozinhar, viajar e de assistir na TV toda a programação esportiva, inclusive futebol” – afirma a são-paulina. Aliás, além de esportes, só acompanha noticiários. “Não tenho paciência para ver novelas, filmes e séries”.

Ser otimista e ter pensamentos positivos são, segundo ela, fundamentais para ter vida longa e saudável.  “Algumas das minhas amigas só reclamam, não as critico, elas me fazem pensar na minha vida, que teve fases de dificuldades, mas consegui criar minha família e não preciso me preocupar mais com ela. Quando meu filho faleceu, fiquei duas semanas no fundo do poço, mas depois reagi. Tive consciência de que não podia continuar na tristeza, porque não queria ficar doente.”

*As “letras” do alfabeto japonês são chamadas de Hiragana e Katakana (silabários fonéticos que representam sons, um para palavras nativas e outro para estrangeiras), e Kanji (ideogramas que se referem a significados). 

Fotos: Acervo pessoal