Saúde e Bem-Estar

Terapia entre canteiros e vasos

Cuidar de plantas chega a ter indicação terapêutica, ideal para relaxar, fonte de realização pessoal, indicada para o resgate da memória afetiva e, ainda, capaz de tornar mais dinâmica a rotina diária, em particular daqueles que vivem a fase do envelhecimento.

Os benefícios da jardinagem para a pessoa idosa são relacionados por Neide Braga de Souza Vitorino, administradora de empresas e com formação também em técnica em paisagismo pelo SENAC. Segundo ela vão desde a contribuição para o cognitivo até a memória afetiva, o que explica a recomendação médica de cultivar jardim como recurso terapêutico.  E, se há jovens também inclinados a buscar o contato com o verde, predomina o interesse por parte das mulheres (60%), na faixa etária após os 50 ou 60 anos.

Neide Braga

O verde afetivo

Entre os clientes que atende, Neide relata o caso de uma senhora portuguesa, que vive na capital paulista, de nome Helena, viúva e que desde sua terra natal cultivavaplantas, uma vez que morava em zona rural. Hoje, com 92 anos, apesar das dificuldades de locomoção e memória, ainda se ocupa da rega das espécies do jardim de sua casa. A paisagista conta que essa cliente avistou uma camélia branca no pé e, imediatamente, recordou da mãe, cantou e recitou poesias de autoria do irmão, todas lembranças do passado.   

“Os estudos das chamadas zonas azuis do planeta, nas quais o tempo de vida mais longo é uma realidade, apontam que cuidar de jardins é atividade corriqueira nessas áreas”, reforça a especialista, que dirige a Neide Braga Paisagismo.

Qualidade de vida

Arlete Silva

Arlete Silva, que comanda, a partir de Barbacena (MG), as empresas AS Paisagismo; Ervas com Arte e a Pottplanta faz coro ao fato de que está cientificamente comprovado o bem que contato e manuseio de plantas produzem. Na prática, ela assinala ganhos como: redução no nível de estresse e de ansiedade, melhora no nível de atenção, aumento do bem-estar, garantia de bom humor, maior controle das dores físicas e qualidade do sono. E estar exposto ao ar livre permite absorção em dose maior de vitamina D e a socialização, no contato com outras pessoas.

Curioso ou não, o fato é que se dedicação à jardinagem era algo restrito ao universo feminino, Arlete constata, atualmente, maior interesse dos homens, seja no cuidado de hortas, flores e mesmo empenhados em decorar a casa com vasos de planta. “Eles se mostram muito comprometidos e vibrantes com o resultado”, frisa.

Desejo que floresceu

Anita Mendes

Aos 73 anos, Anita Mendes Ferreira, que na adolescência ajudou o pai na lavoura de café, no interior do Paraná, afirma que o olhar mais carinhoso para as plantas herdou da mãe. Com o casamento prematuro, aos 15 anos, e tendo se dedicado ao companheiro e ao casal de filhos, o despertar para o cultivo veio mais tarde. Ela, que também ajudou a cuidar do comércio da família, hoje, viúva, filhos crescidos e com netos, confessa a sua queda: “adoro o verde”. As folhagens – de todos os tipos – são as preferidas de Anita que considera: “mexer com o verde me traz felicidade e tranquilidade, se pudesse passaria o dia todo cuidando dos meus vasos”.

E se vencer a tentação de pegar uma “mudinha”, esteja onde estiver a espécie, se torna missão impossível para os implacáveis amantes de plantas, Anita reconhece: “gosto muito de recolher mudas, seja numa praça, num parque ou na casa de alguém, se estiverem do lado de fora, claro!” Ela diz preferir flor a qualquer outro tipo de presente. “Se eu recebo como mimo uma rosa (mesmo furtada… rsrs) deixo secar e guardo dentro da Bíblia”.

Cuidado retribuído

Maria Aparecida Torres

Cantora profissional há 25 anos, Maria Aparecida Vilas Boas Torres, aos 59 anos, casada e com três filhas adultas é do tipo extremo que conversa com as plantas e até canta para elas enquanto cuida do jardim. Em 160 metros quadrados de quintal em sua casa, na Região do ABC Paulista, ela jura manter cerca de 750 vasos, além de canteiros. Se a música foi influência do pai, a paixão desenfreada pelas plantas veio da mãe. “Um dos meus sonhos era ter uma chácara”, relembra.

“Amo plantas, elas me transportam e fazem me sentir viva, mais perto de Deus. Sinto uma energia tão intensa que blinda os pensamentos ruins, como magia elas têm o dom de transmitir alegria e amor”. Essa devoção de Maria Aparecida ao verde que a rodeia vai além. Quando, ao sair de casa para a maternidade, às vésperas do nascimento de sua terceira filha, se dirigiu ao jardim e falou em voz alta para que se mantivesse viçoso, porque ela iria buscar mais uma “flor”. “No retorno com o bebê, tudo estava curiosamente ainda mais florido”, relata. As plantas retribuem, segundo ela como seres vivos especiais, todo o cuidado que recebem.

Além das orquídeas, folhagens e rosa do deserto, uma paixão: a flor da cerejeira, da árvore símbolo do Japão que, em breve, vai ser homenageada numa tatuagem que Maria Aparecida planeja fazer.

Fotos: acervo pessoal

www.neidebraga.com.br

@neidebraga_paisagismo

www.facebook.com/neidebragapaisagismo

@as.paisagismo

@ervascomarte

@pottplanta