Saúde, Bem-Estar e Alimentação

Memória biográfica, muito além de um simples exercício para a mente

Sônia Fuentes: recordações afetivas preservam a memória

As lembranças afetivas, que reúnem importantes capítulos da história de cada um, têm significativo papel na preservação da memória. Elas acessam os cinco sentidos e são capazes de criar gatilhos emocionais, que se tornam mecanismos saudáveis e eficientes, na tarefa de preservar o raciocínio e a vitalidade da mente. Quem garante é a psicóloga clínica e especialista em gerontologia, há mais de 20 anos, Sônia Fuentes, com mestrado, doutorado e pós-doutorado no Brasil e exterior. Não se trata, segundo ela, de treinar o cognitivo, “para esse fim há jogos e treinos específicos e que atestam o seu valor”.

Debruçada sobre o estudo do envelhecimento, Fuentes relaciona que a arquitetura da mente dos longevos requer considerações de ordem biológica, de nutrição, entre outros aspectos que precisam ser ponderados. Mas o questionamento sobre o tema, conforme ela relata, já inspirou, no início, o seu trabalho de conclusão de curso (TCC), que levantou a bandeira `do que faz a vida feliz´. A pesquisa considerou o universo de 10 idosos – homens e mulheres – com idade superior a 80 anos. A linha de investigação seguiu a sondagem sobre dois tipos de memória: a biológica e a biográfica, que armazenam dados e fatos relevantes da vida e geram prazer ao serem acionados.

A partir do enfoque lúdico, que ative a memória e as funções que abrigam as lembranças, somado à tentativa de sair da teoria e desembocar na prática, a especialista transformou sua vivência na gerontologia na publicação de dois livros. As obras, que propõem atividades e desafios para assegurar vigor ao ato de lembrar, são: “Tecendo o Chamado de Atena e Aracne”, uma coletânea de oficinas para os 60+ e “Tecendo Teias Neuronais – Ativando a Memória, Cuidando do Cérebro”, que reúne atividades e desafios.

A autora deseja ver contemplados nessa literatura não somente o impulso mental, mas almeja motivar no leitor maduro também à capacidade de relaxar, viver em plenitude com a natureza e com o ambiente que o cerca. Além de priorizar movimentos cotidianos como escrever, desenhar, ler, cozinhar, entre outros. “A meta é estabelecer um conjunto de estímulos que envolva os cinco sentidos, promovendo a atenção focada e a criatividade”, explica. A aplicação dos ensinamentos dos livros pode ser realizada em grupo ou individualmente.

Com base no pensamento do filósofo e historiador Michel Foucault, de que ‘saúde não é seguir normas gerais, uma vez que a régua é individual’, Fuentes frisa que adota o olhar particularizado, com o método que criou, igualmente no consultório. “O uso da escrita e das leituras com os pacientes foi libertador e auxiliou muito no processo terapêutico”, reconhece.

Segundas intenções

Nos últimos três meses de 2024, a  especialista em envelhecimento coordenou o projeto “Segundas Intenções, Memórias e Histórias”, sempre às segundas-feiras, com duas horas de duração, no Ideac – Instituto Para o Desenvolvimento Educacional, Artístico e Científico, voltado ao público sênior. O projeto reuniu 40 participantes, entre homens e mulheres da Terceira Idade. A dinâmica dos encontros – que foi um sucesso dentro da programação do Instituto – se baseou nas técnicas e abordagens em ritmo de diversão e entretenimento, pelo viés afetivo e de uso da escrita, roda de conversa, relatos de vida e experiências, a fim de ampliar a saúde da memória.

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