Dentista por formação e empresário do ramo de convênio odontológico, Vanderlei de Souza Júnior, quando ainda jovem em sua cidade natal, Sertãozinho (SP), fez a escolha profissional para traçar o rumo na vida e atender o desejo dos pais. Hoje, com seus 59 anos, reconhece, entretanto, que durante a juventude haviam características em seu jeito de ser que nem sempre facilitavam as coisas. “Eu era tímido, introvertido, sem muito traquejo social e também sem grande ambição”, sintetiza ele. Mas almejava apurar seu olhar sobre o mundo que o rodeava, foi aí que encontrou, na fotografia, essa espécie de ‘rota de fuga’, sinalizada no íntimo daquele menino do interior.
Ainda no campo profissional, acalentava um outro propósito, o de empreender. Foi quando, junto com amigos, colegas de formação, abriu a empresa de convênio odontológico.
O elo com a fotografia
Aos 18 anos, o pai de Vanderlei o havia presenteado com uma câmera bastante simples, com poucos recursos, porém suficiente para acentuar o fascínio pelos clicks. Com o passar dos anos, o sonho de fotografar tomou forma, se tornou uma atividade secundária, porém não menor em importância. A ponto de alimentar, cada vez mais, a curiosidade, dedicação e tempo dispensado com outro tipo de estética, não somente a dos dentes da clientela no consultório. “Recorri a livros e revistas sobre técnicas fotográficas e comecei a estudar e buscar novos conhecimentos”, assinala. Apesar de ainda amador e com equipamento que não permitia peripécias, driblava os obstáculos com criatividade. Mais adiante, já com o diploma na mão e dinheiro do seu trabalho investiu numa câmera mais moderna.
No relato de Vanderlei fica muito claro a profunda ligação com a fotografia. Ele garante que essa prática, de captar imagens num momento, espaço e luz únicos, estimula que ele se solte. “Me possibilita desabrochar e me expressar através da arte, transcender mesmo, ao levar a minha percepção como mensagem para outras pessoas”. Autodidata, atinge esse objetivo com o tema de sua preferência: fotos espontâneas feitas na rua, numa cena não planejada e nem previsível no resultado a ser obtido.
Render valor à ancestralidade
Num insight, em 2022, dentro do espectro da subjetividade que envolve o olhar atento de Vanderlei, fotografou cerca de 10 pessoas, com idade acima dos 70 anos. Personagens selecionados por ele entre familiares, amigos, alguns que conheceu durante o trabalho e outros que atenderam à convocatória feita via internet. Na prática, as imagens foram feitas na residência de cada um desses ‘modelos’, num pequeno estúdio improvisado e com ajuda profissional na maquiagem.
O projeto foi batizado pelo autor de “Coser em Ouro”, no sentido de costurar as linhas dos rostos com dourado. A inspiração surgiu da associação com a técnica japonesa ‘Kintsukuroi’’, que se resume em aplicar cola dourada em peças de cerâmica, em área a ser restaurada. A analogia se justificou – conforme explica – por conta da valorização que os orientais destinam à ancestralidade, transferida para o holofote que destinou aos idosos. No ano seguinte, os ensaios fotográficos foram expostos numa exposição, em Ribeirão Preto (SP), com boa aceitação do público.
Desfrutar os momentos
Muito próximo de integrar o time dos 60+ e viver a plena maturidade, Vanderlei defende que a busca de algo prazeroso precisa estar presente nas escolhas quando no envelhecimento. Conseguiu influenciar a filha de 26 anos que, segundo ele, aprecia a arte e faz fotos com sua própria máquina. Considera as viagens em família, junto com esposa e seus dois filhos, oportunidade ideal para registros interessantes. Entre os nomes da fotografia que ele diz admirar estão: Alexander Rodchenko, Alfred Stieglitz, Andre Kertesz, Ansel Adams, Elliot Erwitt, Henri Cartier Bresson, Geraldo de Barros e Fan Ho.