Personagem

Kobra, o renomado brasileiro que estampa talento e espírito humanitário em murais de rua pelo mundo

O gênio da arquitetura em mural do gênio da street art

Ele tem um traço peculiar, pela forma e cores fortes e contrastantes. Dono de talento único e comprometido com causas humanitárias e ambientais, um incansável propagador da cultura de paz, Eduardo Kobra (nome artístico) é um brasileiro que dá ânimo para que se acredite num mundo melhor. Nascido Carlos Eduardo Fernandes, em 1975, no Jardim Martinica, na zona sul paulistana, autodidata como ele mesmo exprime sobre sua formação, é um dos mais reconhecidos muralistas da atualidade, incluindo presença em galerias e museus. A street art, que leva a assinatura de Kobra, está em obras espalhadas pelos cinco continentes, saldo de 37 anos nessa atividade. Até mesmo a sétima arte reconheceu a importância de seu trabalho no documentário ‘Kobra – Auto Retrato’, da cineasta Lina Chamie, sobre a vida do artista que, em agosto de 2023, conquistou o honroso Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. 

É frequente a participação daquele, que alguns conhecem apenas pela sua origem como grafiteiro, em campanhas de arrecadação de alimentos. Em 2020, mobilizou empresários para custear a construção de duas usinas de oxigênio hospitalar, para pacientes de Covid-19. No Natal de 2021, liderou ação para presentear crianças e famílias que vivem em uma área de aterro em São Paulo.

Nesta entrevista exclusiva para o Afinaidade, o artista conta sobre as influências que recebeu e planos para o futuro, às vésperas do Dia Mundial do Grafite, celebrado, todos os anos, em 27 de março.

Na galeria, em Itu (SP), pinturas em tela retratam obras consagradas

O que significa o grafite para você?

O grafite foi onde eu comecei. Na verdade, início conectado com o que era considerado ilegal mesmo. Eu fazia pichações, em 1987, depois parti para o grafite, desenhos mais elaborados, porém também feito de forma ilegal. Vale a pena explicar que o que eu faço hoje é considerado mural. Por que mural? Porque tenho a permissão do proprietário. Por sua vez, o grafite tem conexão com os primeiros artistas de NovaYork e tornou-se minha fonte de inspiração. E nas minhas referências originais constam nomes como o de Jean-Michel Basquiat, entre tantos outros importantes na história da arte. O significado do grafite é a origem do movimento da arte de rua, da arte pública.

Qual é a obra mais significativa para você e por quê?

Hoje são 50 murais nos Estados Unidos e obras em cerca de 37 países. Vou agora para o 38º mural, na Colômbia. Diversos painéis, variados desafios e temas e a presença em todos os continentes. São murais na África, na Índia, enfim.  Todos os painéis são importantes e relevantes para mim, especialmente os últimos que têm um peso diferenciado, porque trazem toda a experiência que adquiri nesses últimos 37 anos, pintando murais. Mas se eu fosse citar aqui uma preferência, provavelmente poderia destacar o ‘Projeto Cores pela Liberdade’, que fiz em Nova York, num total de 18 murais; o ‘Etnias’, na cidade do Rio de Janeiro, no Boulevard Olímpico e o mural do Oscar Niemeyer, na Avenida Paulista, um dos primeiros prédios pintados na cidade de São Paulo.

Qual a sua formação acadêmica, fez algum curso específico ligado à arte?

Nenhum curso, sou autodidata. Estudei até o terceiro ano do colegial. Mas isso não significa que não passe a maior parte do meu tempo pesquisando e estudando sozinho, em livrarias, bibliotecas e tudo o mais. As pessoas confundem autodidata com: você acorda de manhã e já sai desenhando, criando. Não é bem assim.Mantenho estudo paralelo, individual e, obviamente, tenho que entender um pouco de toda a história da arte, de outros artistas, de como as coisas são construídas e como foram no passado, para poder desenvolver o meu trabalho na atualidade.

Entre seus projetos futuros, em que estágio se encontra a instalação da sede do Instituto Kobra?

É necessário pontuar que a gente já vem trabalhando nesse Instituto há muitos anos de forma remota, ou seja online, através de várias ações. Então eu tenho revertido muitos projetos, muitas obras em prol dessa meta. Mas agora teremos um espaço físico, em Itu (SP), numa área de aproximadamente 7.000 m², dividida em dois galpões e mais um espaço que vamos construir. No momento, estamos no estágio em que se obteve as permissões por 20 anos, numa concorrência pública e agora conseguimos os patrocinadores, que vão bancar toda a construção. A minha expectativa é que, no próximo ano, esse espaço já esteja em pleno funcionamento com palestras, workshops, oficinas e também, ainda de acordo com o que espero, conseguir trazer os 50 maiores artistas do mundo pra cá.

Em 27 de março é celebrado o Dia Mundial do Grafite, manifestação artística urbana, que surgiu nos anos 1970, em Nova York. Na sua opinião, qual a relevância dessa data comemorativa?

Eu também me inspirei nesses artistas de Nova York, relacionados à origem da arte. O 27 de março, é o Dia Mundial do Grafite em homenagem ao Alex Vallauri, um artista que realizou obras muito importantes aqui no Brasil. Acredito que seja por conta da data do falecimento dele. É uma data, na minha opinião, pouco difundida, que merece mais destaque e credibilidade nos dias de hoje. Vamos trabalhar para evoluir, porque a arte de rua, por mais que tenha avançado, ainda enfrenta muito preconceito, muita discriminação. Mas estamos trabalhando para quebrar essas barreiras e fronteiras, a fim de mostrar que não há diferença nenhuma da arte que está nas galerias e nos museus, daquela feita nas ruas, nas cidades. Tudo é arte!

Os recordes mundiais:

O maior mural, à beira de uma rodovia paulista

– Obra que retrata um trabalhador simples de uma fazenda de cacau e que ocupa um paredão de 5.742 m², às margens da Rodovia Castello Branco, na Região Metropolitana de São Paulo.

“Etnias”, a ancestralidade ganha forma e cor

– Painel ‘Etnias’, pintado por ocasião dos Jogos Olímpicos, no Rio de Janeiro, com 2.500 m².

Algumas personalidades retratadas nos murais de Kobra: Martin Luther King, Ayrton Senna, Mahatma Gandhi, Anne Frank, Malala Yousafzai, Albert Einstein, Oscar Niemeyer, Salvador Dalí, Chico Buarque, entre outros.

@kobrastreetart

facebook.com/kobrastreetart

10 comentários

  1. Vania diz:

    Parabéns pela entrevista! Amei!
    Que dom maravilhoso o Kobra tem!

    1. Cecília Fazzini diz:

      Vânia que bom que gostou da reportagem. De fato, o Kobra é um artista completo.

  2. Rica Lopes diz:

    Que ótimo a entrevista com o fantástico Kobra. Parabéns!

    1. Cecília Fazzini diz:

      Obrigada Rica Lopes. O Kobra é um ser inspirador.

  3. Camilla diz:

    Muito bom!

    1. Cecília Fazzini diz:

      Obrigada Camilla! Que bom que apreciou a matéria.

  4. Camilla diz:

    Que entrevista legal! Muito bom conhecer um pouco mais sobre o Kobra, tão talentoso.

    1. Cecília Fazzini diz:

      Camilla, o Kobra tem o dom de fazer da arte dele um manifesto em favor da humanidade!

  5. Tania Magro Fernandez diz:

    Excelente a entrevista!! Muito interessante conhecer melhor o Kobra. Admiro o ativismo e criatividade do artista. Parabéns.

    1. Cecília Fazzini diz:

      Muito obrigada Tânia. Você tem razão, o Kobra defende causas muito nobres e quanto à sua criatividade, dispensa apresentações mesmo.

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