Personagem

“Minha ligação com o circo é quase mística”

Marcos Frota completa, em setembro próximo, 70 anos de vida e 50 de profissão, definida pelo local de seu nascimento: Rua Casa do Ator, Vila Olímpia, capital paulista. Carreira, realizações, projetos, família e momentos marcantes estão nesta entrevista, exclusiva para o Afinaidade :

Você é ator, trapezista e empresário. Com qual profissão mais se identifica?

Ator de teatro, da televisão e do cinema.

De todos personagens que representou, qual mais gostou?

Alguns foram certamente os mais marcantes e mais intensos. No palco, viver o Marcelo Rubens Paiva, na peça “Feliz Ano Velho”. E, na TV, na novela “Mulheres de Areia”, da Rede Globo, escrita de forma brilhante pela Ivani Ribeiro, interpretar o Tonho da Lua, um ingênuo artista que cria belas esculturas na areia da praia. A repercussão foi muito grande.

Como surgiu sua ligação com o circo?

Minha ligação com o circo é quase mística, porque não sei se eu que escolhi o circo ou foi o circo que acabou me escolhendo. O circo era uma paixão que virou amor e o amor é para sempre. São 40 anos. Já gostava de circo e, em 1986 vivi na Rede Globo o trapezista Ricky, personagem da novela “Cambalacho”, do Sílvio de Abreu. E, desde então, o circo não saiu da minha vida. Vale lembrar ainda que, em 1993, no último capítulo de “Mulheres de Areia”, Tonho da Lua vai embora de Pontal D´Areia com a caravana do circo, montado no cavalo Atrevido.

O que o circo significa para você?

O circo é o exercício da minha cidadania, um jeito de amar o Brasil e de retribuir tudo que eu recebi. É considerado a mãe de todas as artes, é arte milenar e como queria mexer na estética e na mentalidade dele, tive de empreender. Criei meu próprio circo e, desde 2000, também uma universidade livre do circo, que tem sede nacional no Rio de Janeiro, no Parque Municipal da Quinta da Boa Vista, e vários grupos itinerantes espalhados pelo País. Aí não parou mais, cada hora de um jeito, cada hora em algum lugar. Mesmo fazendo teatro, cinema e televisão, o circo estava sempre perto, mobilizando artistas, técnicos, gestores, administradores. Isso explica o projeto da Unicirco, que traz o entendimento e a leitura da universalidade que o circo tem. Tudo que acontece no circo é grandioso, espetacular, universal, daí ter ficado mais significativo denominar o projeto de Unicirco – arte, educação e comunidade.

Como é a atividade circense no Brasil?

Em nosso país, passa pelo seu melhor momento, tanto dentro do picadeiro como na condução dos processos dos espetáculos, dos conteúdos, das turnês. Tem muito gestor bom e comunicadores que fazem a documentação. O circo conseguiu se renovar e se reinventar. Depois da retirada dos animais do picadeiro, colhe os frutos com grandes trapezistas, acróbatas, saltadores, bailarinos, e palhaços. Gente muito talentosa, muito bonita, que tem uma forma de ver o circo totalmente diferente. Isso me deixa muito feliz. Lutei por isso! Levei o circo para a mídia de um modo geral e hoje é uma grande e belíssima realidade, um case de sucesso.

O que diria hoje para quem deseja trabalhar em circo?

Precisa saber cantar, interpretar, dançar e saltar porque o circo está entrando na era musical, além de ter muita tecnologia à serviço do talento. São telões de led, grandes estruturas de luz e de som, efeitos especiais. Tem que ter uma personalidade artística capaz de conviver com tudo isso que envolve o circo atual. O circo é clássico, mas é contemporâneo e exige esse tipo de atitude: ser em cena um artista completo.

Como é o Marcos Frota hoje, vida profissional e pessoal?

Não me apresento mais como trapezista. Sou mais um embaixador, um mestre de cerimônias que faz a ponte entre o picadeiro e a plateia, desvendando os mistérios, poetizando o circo, incluindo a dramaturgia para o espetáculo. Procuro contribuir para a revelação de novos talentos, buscando novos atores, diretores, coreógrafos, músicos, diretores de cena a fim de enriquecer ainda mais a cena circense no nosso país. E neste 2025, estou muito aberto ao cinema. Participei, recentemente, do Festival de Cannes, na Riviera Francesa. Fui abrir possibilidade de coprodução com roteiro, desenvolvimento de projetos, distribuição de filmes, inscrição nos grandes festivais de cinema do mundo inteiro. Minha cabeça está muito voltada para o cinema. Quero assistir muitos filmes, produzir e, principalmente, atuar porque sou essencialmente um ator.

Cibele* foi minha primeira namorada e com certeza vive num lugar de luz. Devo tudo o que sou à ela. Tivemos três filhas: Amaralina, Apoena e Tainã. Conheci Carolina Dieckmann nos corredores da Globo, nos apaixonamos e vivemos quase uma década juntos, alegres, felizes. Tivemos o Davi, um menino de ouro, um presente que a vida nos deu. Meus quatro filhos e três netos são amigos, muito próximos e interligados. Isso me dá uma tranquilidade porque sei que vão caminhar juntos, um apoiando o outro.

*Empresária Cibele Ferreira, falecida em 1993, vítima de um acidente.

Fotos: acervo pessoal

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