Tema de permanente atenção, as finanças pessoais dos longevos estão no radar dos especialistas. Entre eles, o professor José Dutra Vieira Sobrinho, com experiência de mais de 55 anos de atuação no mercado financeiro e 46 anos no ofício de dar aulas de matemática com foco em finanças. Conhecimentos aplicados, sobretudo, quando o assunto é economia e formas de tratar bem o sagrado sustento.
Do seu posto de observação, atesta que o aumento da expectativa de vida da população requer olhar atento, incluindo o campo financeiro. “No final da Segunda Guerra Mundial, as pessoas viviam até pouco mais de 40 anos e, agora no Brasil, se aproximam da média dos 80 anos”, constata.
Com uma geração cada vez mais numerosa de platinados, empenhada em proteger seus recursos, o também economista e pós-graduado em Ciências Contábeis, pela FEA/USP, calibra suas lentes para melhor interpretar a desenvoltura financeira desse grupo. Recomenda que seja uma prática a administração do saldo bancário, enquanto antevê um quadro promissor. “A vida hoje, de acordo com o testemunho de milhões de pessoas, está bem melhor do que há séculos, apesar de ainda haver guerras e fome no mundo”, acentua. E outro fator que gera entusiasmo, de acordo com ele, é a esperança de que a inteligência humana encontre meios para resolver o desafio de criar atividades remuneradas, que possam proporcionar aos sêniores renda adicional, necessária para tornar mais tranquila a sobrevivência.
Mesmo acometido de otimismo quanto à contribuição dos recursos tecnológicos ao bem-estar dos platinados, Vieira Sobrinho antevê, por outro lado, nas próximas décadas, um quadro inquietante para o sistema público de aposentadoria que, no seu entender, “se tornará insustentável”. Some-se a essa previsão a baixa disponibilidade de recursos, no mercado financeiro, porque os valores destinados às rendas fixa e variável se tornarão insuficientes.
O destino das aplicações
Sem identificar mudanças significativas no rumo do dinheiro atualmente, o professor confirma a conduta mais conservadora das pessoas idosas. “Em meados dos anos 70, esse investidor se interessou muito pela aplicação em ações. Atualmente a preferência recai sobre a renda fixa, que remunera o investidor com juros mais correção monetária”. E embora a poupança tenha a menor remuneração entre todos os ativos existentes, é a aplicação de maior volume, e “grande parte dos poupadores seguramente é formada pelos mais idosos”.
Passividade diante dos juros
Quanto ao espectro dos empréstimos, considera que entre os tomadores de recursos, sejam os mais jovens ou o cliente 60+ das instituições financeiras, há conformismo com os altos juros praticados. “Os mais idosos aceitam passivamente e com absoluta naturalidade, pagar juros de 8% ao mês (equivalente a 151,8% ao ano) nas operações com cheque especial. E o pior: pagam taxas ainda mais estratosféricas nos saldos devedores dos cartões de crédito”, frisa. Pesquisas realizadas por órgãos competentes apontam que o endividamento com o chamado “dinheiro de plástico” compromete a renda de quase 87% das famílias brasileiras.
Pelo lado dos aplicadores de recursos, as regras continuam as mesmas e compactuadas por jovens e sêniores: remuneração baixa (próximas as da poupança), em torno de 80% a 85% da taxa Selic, para aplicações em torno de R$ 2 mil a R$ 5 mil e de 100% ou mais da Selic para valores superiores. “Não há como escapar dessa regra”, lamenta o especialista. Em sua análise, os títulos da dívida pública federal oferecem a maior garantia e a maior liquidez entre todos os papéis negociados no mercado; mas, paradoxalmente, também asseguram excelente rentabilidade para pequenos e médios aplicadores, forte concorrente para os bancos.
Na encruzilhada dos planos de saúde
A cadeira de professor em curso de pós-graduação na PUC/SP e MBA para advogados no INSPER durante 12 anos, até 2017, rendeu a Vieira Sobrinho vivência para tratar de um tema delicado: planos de saúde X custo para a faixa etária dos segurados. “Esse serviço se tornou um problema extremamente grave para o orçamento doméstico, devido às regras de reajustes em vigor”, em especial a correção que ocorre no período pós-aposentadoria do titular, em descompasso com o índice de correção dos salários.
No seu entender, o equacionamento e a definição de um plano de saúde para o grupo 60+ passam, necessariamente, pela moralização e reformulação dos planos atuais. Ele que é vice-presidente da Ordem dos Economistas do Brasil (OEB), sintetiza: as regras existentes para o reajuste de preços inviabilizam a possibilidade do seu financiamento. Resultado? A debandada para o SUS, de acordo com o professor, apesar de não ideal é “o maior plano de saúde pública do mundo que, além de médicos e hospitais ainda disponibiliza, gratuitamente, vários tipos de medicamentos necessários para o tratamento de doenças crônicas”.