Educação e Cursos

Universidade criada para o idoso resgata conhecimento e histórias do fundo do baú

A Universidade Aberta à Pessoa Idosa (Uapi), inciativa do Instituto Ânima, realiza atividades que se distribuem entre difusão de novos conhecimentos e práticas lúdicas

Quem disse que a geração platinada não pode tirar de letra o manuseio de um computador ou do celular? Isso e muito mais, como acessar possibilidades de atualização profissional, que permitam a um aluno da maturidade retornar, mesmo depois de aposentados, ao mercado de trabalho pela porta da frente. E, ainda, propostas que se destinam a aumentar a autoestima, ao revisitar o passado no relato de suas lembranças e histórias.

Naiane dos Santos, do Instituto Ânima

Naiane Loureiro dos Santos, gerente de projetos do Instituto Ânima – entidade sem fins lucrativos que visa transformar vidas, de todas as faixas etárias, através de programas educacionais de impacto social – é uma entusiasta do plano de ensino voltado à melhor idade. Ela conta que o berço do projeto foi a região metropolitana de Belo Horizonte. Explica que o embrião dessas atividades, que em geral atendem ciclo de um a dois anos, é a parceria entre a gestão pública do município, via Conselho do Idoso e recursos da iniciativa privada à título de incentivo fiscal. Até o momento foram beneficiadas mais de 11 mil pessoas no Brasil, com idade entre 60 a 70 anos ou mais, com predominância de demanda do sexo feminino (90% dos alunos assistidos) em quatro estados: Minas Gerais, São Paulo, Santa Catarina e Rio de Janeiro. Todos os cursos, em qualquer das unidades, são gratuitos.

Os principais eixos que orientam a formatação das aulas (presenciais e/ou online) são: direito dos idosos; saúde e bem-estar (física/mental); dinâmicas que envolvam o uso da tecnologia e acesso ao mundo digital e cultura – memória e história.

“Acredito muito nesse projeto, desenhado sob a perspectiva de um novo envelhecimento, capaz de mudar a visão e revelar que a terceira idade pode se transformar num estágio muito bom com surpresas e novos projetos”, considera a gerente do Instituto Ânima. Outro ganho substancial no entender de Naiane dos Santos é a vivência intergeracional proposta no convívio de monitores jovens com os alunos platinados.

Contato com meios de comunicação, em BH

Na plenitude

Nascido da inspiração de Elias Santos, mineiro de 53 anos, professor universitário e com trajetória profissional em rádio e TV, ações de comunicação como o grupo Plenitude 60+ e “Memória e História” conquistaram os alunos da capital mineira. No repertório, transmitido a partir de abril de 2020 a grupo no whatsapp e facebook, o Plenitude 60+ ganhou maior visibilidade há um ano, com espaço no instagram. “Havia a reclusão pela pandemia e o desafio foi definir linha editorial, formato e temas a serem abordados”, relata o professor. Segundo ele, saúde, direito, finanças pessoais e proteção contra crimes digitais envolvendo o dinheiro dos maduros foram as prioridades, além de orientação contra fake news relacionadas à Covid.

Elias Santos confessa que  esse ‘mergulho’ no mundo dos maduros o levou à sua atual pesquisa de doutorado, que trata da comunicação, vulnerabilidade e pertencimento dos idosos na realidade atual.

Elias Santos (ao centro) com o grupo do projeto “Memória e História “

“Memória e história”

Da vivência em rádio e televisão, nasceu a disciplina de “Memória e História”. O formato era simples de ser assimilado pelos alunos, porque resgatava experiências passadas com alguma fotografia (vasculhar imagens da infância, por exemplo), filme marcante (assistido em algum cinema de rua ou na televisão), programas de rádio ou TV e música relacionada a algum evento inesquecível da vida. “O intuito era trazer à tona as lembranças repletas de sentimentalismo e experiências individuaise também vasculhar a sensação do coletivo, com trocas, maior comunicação entre os integrantes do grupo e ativação da memória afetiva”, sintetiza o idealizador do “Memória e História”, que já atendeu 5 turmas, de 20 alunos cada.

Aulas de gastronomia e informática, destaque na preferência dos alunos 

Trabalho sim senhor!

Com alguns trabalhos já relacionados a Terceiro Setor em seu currículo, Daniél Abrêu (o nome dele tem esses acentos mesmo), psicólogo, pedagogo e com variações na carreira nas áreas de saúde e negócios, é o coordenador do Núcleo de Trabalhabilidade Sênior do Instituto Ânima, que conta com equipe de cerca de 40 pessoas. Ele, que tem mestrado em Ciência do Envelhecimento, atua na unidade da Universidade Aberta à Pessoa idosa na capital paulista e iniciou a estruturação do projeto em agosto de 2023, com a contratação de instrutores e bolsistas. O panorama sinalizado pelo IBGE no último senso, de que só na cidade de São Paulo vivem 2,2 milhões de pessoas com idade superior a 60 anos, foi o vetor para dar a largada à atuação do Núcleo.

Predominância feminina nas turmas

“O objetivo não se restringia a constatar a não empregabilidade de homens e mulheres na faixa etária em questão, mas ir além ao avaliar como vivem, qual a real necessidade de terem uma ocupação, enfim como qualificar esse grupo para a vida mesmo”, esclarece o coordenador do projeto que já realizou 1.920 atendimentos e realizou 1.120 palestras, tendo como alvo igualmente a maioria de atendidos do sexo feminino.

As grades de cursos do Núcleo de Trabalhabilidade contemplam disciplinas à escolha dos alunos e entre as mais buscadas estão Informática, com aplicabilidade para alguma função no trabalho e Memória e Concentração. Além de Marketing Pessoal, Imagem e Carreira; Redes Sociais para Influenciadores; Cuidador Infantil; Didática e Mentoria; Empreendedorismo Sênior; Trabalho em Eventos; Vendas e Marketing Digital; Gastronomia, Doces, Pães e Salgados; Gestão Financeira e Plano de Negócios.

https://uapi.institutoanimaeducacao.org.br

https://www.facebook.com/UniAbertaAoIdoso

https://www.instagram.com/instituto.anima

Fotos: acervo Universidade Aberta à Pessoa Idosa

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