Homenagear com arte aquele ente querido é sempre prova especial de carinho. E quando se juntam uma jovem compositora, que conviveu intensamente com a avó inspiradora até os seus 18 anos, daí só pode dar samba ou outro gênero musical, embalado na letra que é uma emocionante declaração de amor.
Bagunceira, divertida e única. Sem poupar adjetivos carinhosos e, seja como for, pouco associados às avós mais convencionais, Luna França, 35 anos, encontrou um jeito de homenagear a sua do lado paterno. Paulistana, jornalista por formação, que abraçou convicta a carreira de cantora, compositora e produtora musical, filha do também cantor e compositor Dudu França.
Luna, que deixa a música fluir pelos poros, passou as férias na infância e adolescência na paradisíaca Ilhabela (SP), onde a avó Aracy França Pontes – carinhosamente conhecida por todos como Cecy – mantinha laços familiares e uma casa de veraneio. A localidade à beira-mar é o seu lugar, uma espécie de segundo lar. “Vivo da música e para a música. Amo o palco, o estúdio e a produção musical”, revela toda a igual paixão pela arte a que se dedica.
E foi durante a pandemia, quando reclusa na casa da praia, que aconteceu o Festival da Canção de Ilhabela. Ela resolveu topar o desafio, se inscreveu e partiu para a empreitada de compor para a avó, falecida quando Luna tinha apenas 18 anos. “O tema do festival era cantar a gente da ilha e, para mim, minha vó personificava exatamente isso, foi através dela que conheci e vivi o lugar de que tanto gosto”.
Conexão pelo feminino
O ambiente, a casa da avó, as lembranças do que havia vivido por lá e a própria reflexão, fruto do período de confinamento, foram matéria-prima para a inspiração. “Fiquei imaginando o quanto ela já devia ter vivido, pensado, rido, chorado lá”. A compositora indaga como seria a Cecy na sua idade… quais seriam as lutas, as alegrias… “E me conectei como mulher, através das memórias”.
Canção referência
A emoção de apresentar uma música nova e dedicada à uma personagem tão importante para ela, tendo a canção destacada no Festival, tudo tornou a ocasião muito especial para Luna. “Minha família próxima – e também a distante – ficou muito emocionada com a música. E até pessoas que nem conheceram a Cecy, algumas me contaram que não conseguiram evitar as lágrimas, porque lembraram da própria avó”, descreve emocionada.
De neta para avó, carrega na admiração. “Para mim ela foi a mulher mais alegre que eu já conheci. Sempre alto astral, trazendo luz para qualquer ambiente”. Entre as curiosidades sobre a personalidade da avó, relaciona, sem qualquer julgamento e mesmo com uma pontinha de orgulho, o fato da Cecy fugir de todos os padrões. “Ela não sabia cozinhar muito bem, mas rolava no chão com os netos, dava risadas escandalosas e aprontava mais do que a gente. Era diversão na certa, alegria, descontração, bolos feios, mas que valiam a experiência de fazer toda aquela bagunça na cozinha”.
Na letra da música, intitulada “Cecy”, esse comportamento está traduzido no trecho: “minha avó serelepe, uma vez me falou que viver é pra ser engraçado”.
Sobre a nova geração 60+
Para a compositora, os maduros da atualidade são “viventes” e não “sobreviventes”. “Olho para aqueles de gerações à frente da minha como pessoas que já tiveram experiências não melhores ou piores, mas diferentes. E esse tipo de troca, esse olhar aberto para o outro, só nos agrega”, considera. Luna diz querer chegar à maturidade como mulher sempre aberta ao novo, ao diferente, nunca parar de aprender e de se surpreender com a vida. “A gente sempre pode aprender, criar, produzir e ter amigos de todas as idades”, afirma convicta a jovem cantora.
Aqui a letra da música que Luna fez para a avó
Cecy
Vim fazer uma música pra me lembrar de dançar
E brincar e sorrir e cantar como ela ensinou
Aracy, minha avó serelepe, uma vez me falou
Que viver é pra ser engraçado mesmo onde houver dor
Foi aqui nessa casa caiçara que aprendi de pequena
Ser feliz é ser como Cecy, é ser o que se é
E aqui nessa mesma casinha celebro sozinha
A loucura de minha avó na mulher que hoje sou
Longe no tempo, mesmo lugar
Posso te ouvir cantar, olhando o mar
Mergulho fundo, encontro um lar
Aqui dentro de mim
Em você aqui dentro do lar
Dentro de mim, em você aqui
Dentro do lar, em você…
Assista a gravação da música com voz e instrumento de Luna França no Youtube
Meu Deus…essa música me toca profundamente é de uma sensibilidade incrível.
Raquel, concordo plenamente. É uma declaração de amor incondicional da neta Luna. Obrigada pelo comentário,