Personagem

Do suor na lavoura à persistência em empreender

Sandra Brunholi, de Jundiaí (SP), é prova viva do sangue desbravador que corre em suas veias, legado dos colonos que cruzaram o oceano, há dois séculos, cheios de esperança na bagagem, com destino à chamada Terra Nostra.

A hoje empresária de 50 anos Sandra Brunholi, formada em administração com pós-graduação em marketing, conta que os bisavós vieram da Itália separados, aqui se conheceram e se fixaram em Itatiba, no interior paulista, para trabalhar na lavoura de café. Juntaram as economias e compraram um pedaço de terra em Jundiaí, tiveram 11 filhos e o primeiro, o avô dela, formou família com três filhos, entre eles o pai de Sandra. Arnaldo Brunholi, hoje com 73 anos, foi o único dos irmãos que permaneceu com os pés fincados na terra, dedicado ao plantio da uva.

A história da ascendência dos Brunholi é bonita, mas o caminho trilhado não foi de flores. Na safra de 1990, terminada em março daquele ano, veio o sobressalto do Plano Collor, com o confisco da poupança. O dinheiro obtido com a uva, que seria destinado à sobrevivência, não estava mais disponível.

Museu do vinho é memória viva na propriedade dos Brunholi

A vaca no precipício

Com a voz embargada a empresária rememora as dificuldades do passado.  Ela atua junto com os dois irmãos nos negócios da Villa Brunholi, que se divide entre a fábrica, o Museu do Vinho e o restaurante Família Brunholi (*) especializado em massa. “Sabe aquela história de jogar a vaca no precipício? Foi o que aconteceu com a gente e tivemos que encarar o desafiante momento”. Daí a solução foi montar uma lojinha para vender doces de Minas Gerais e colocar rótulo chamativo no vinho que o avô fabricava, até então para consumo próprio e oferecer aos amigos. O pai permanecia no cultivo da uva. E Sandra era só uma estudante do colegial à época e já ajudava a tocar a rotina dos Brunholi. Outro produto que atraiu muito a atenção na loja foi o vinagre de vinho, o mesmo servido num restaurante próximo.

Mas enquanto a loja se destacava no comércio de Jundiaí e garantia renda aos Brunholi, uma grande indústria local fez uma denúncia junto ao Ministério da Agricultura, por tratar-se de artigos artesanais. “Porém, isso nos ajudou ainda mais, porque aumentou a nossa visibilidade e nos obrigou a regularizar a produção”. Hoje a loja já completou 36 anos e a fábrica produz vinho, gim e cachaça para outras empresas.

Registros de um tempo de trabalho e esperança

Pai visionário

A formação do pai de Sandra – que estudou apenas até o 3º ano primário – não roubou do determinado Arnaldo o genuíno espírito visionário. Ele sempre esteve à frente do seu tempo. “Meu pai compra as viagens dele pela internet, usa milhas e mesmo tendo ficado na roça, nunca aceitou os limites impostos pela condição do campo”, reconhece a filha.

Outra demonstração de pioneirismo foi o fato do antenado ter comprado um celular muito antes de qualquer produtor da região. O aparelho servia para ter notícias e controle sobre a família e também para se comunicar com o Ceasa, em São Paulo. Era a forma de se manter atualizado sobre oferta, demanda e preço da uva e fazer a viagem para a capital na certeza de bom negócio.

Trajetória com ‘certificado de procedência’

E essa origem é que explica a resiliência. Veio a pandemia e, de novo, reforça Sandra, o precipício. Fechamos o restaurante (hoje reaberto) de um dia para o outro, com 30 funcionários. Mais uma vez, dificuldade rimou com oportunidade. “Foi quando nosso olhar se voltou para a produção da fábrica”, ressalta.

Perguntada de onde vem a energia para tanto solavanco, acompanhada de criatividade, ela responde com lágrima nos olhos: da persistência do pai, e mais lá atrás, do avô e do bisavô.

@villabrunholi

crédito da foto: acervo Villa Brunholi

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